A Estrela é uma freguesia bastante rica em património cultural nacional. A junção de três importantes freguesias de Lisboa (Freguesia de Santos-o-Velho, Freguesia dos Prazeres e Freguesia da Lapa) culminou numa união também de vários locais históricos e com interesse comum para os cidadãos. É, por essa razão, que na Freguesia da Estrela todos os meses se realiza o evento "À Descoberta da Estrela", uma visita por um dos monumentos emblemáticos da freguesia. Neste mês o foco está direcionado para os Condes de Óbidos e para o seu emblemático palácio, que é, há mais de um século, a sede da Cruz Vermelha.
Inserido num conjunto de reconhecida importância cultural e paisagista (Janelas Verdes, junto ao Jardim 9 de Abril), o Palácio do Conde de Óbidos, também conhecido por Palácio da Rocha, por se erguer sobre um morro calcário, com vista privilegiada sobre o Tejo, foi construído na segunda metade do século XVII por iniciativa de D. Vasco de Mascarenhas (Alcaide-Mor e primeiro Conde de Óbidos).
Danificado pelo terramoto de 1755, foi reconstruído, continuando na posse da família Óbidos-Sabugal até 1874. Foi depois alugado, em grande parte, até 1919, ao British Club, ali sendo recebido, em 1903, o Rei Eduardo VII, durante a visita oficial à corte portuguesa.
Foi também Secretaria da Academia Portuguesa de História e residência do pintor e ceramista Jorge Colaço, autor do painel de azulejos (alusivo à chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil) que ainda hoje se pode apreciar no terraço.
Em 1919, foi adquirido pela Cruz Vermelha Portuguesa que realizou obras de restauro, renovação e embelezamento, orientadas, entre 1934 e 1947, pelo Secretário-Geral e Historiador Afonso Dornelas, que ali habitou e que tanto contribuiu para preservar o legado histórico e enriquecer o valor patrimonial deste palácio.
Durante a II Guerra Mundial, a Sala das Parábolas foi utilizada como enfermaria para os prisioneiros das potências beligerantes, no contexto da intervenção humanitária da Cruz Vermelha Portuguesa.
O Palácio
Ao longo de toda a sua história, e sobretudo no período posterior ao terramoto, foram realizadas no Palácio profundas intervenções de restauro e conservação. Da construção seiscentista subsiste, pouco alterada, a fachada nobre, a norte, com o portal coroado pelas armas da família Óbidos-Sabugal, sustentadas por anjos tenentes.
Na fachada principal, distinguem-se várias figuras de convite novecentistas, em azulejo azul e branco, com inscrições de boas-vindas: “VINDE VOSSA MERCE RECEBER NOSSO CARINHO ENTRANDO NESTA CASA EM QUE DEUS NOS VEJA" e "BEM HAJA QVEM AOS SEVS AMIGOS BVSCA CRIANDO MAIS SAUDADES PARA A AUSENCIA".
No átrio principal estão expostos os bustos do Rei D. Luís e da Rainha D. Maria Pia, protetores da Cruz Vermelha Portuguesa.
O interior, de conceção romântica, apesar de profundamente restaurado no século XX, possui a estrutura dos salões intacta, onde se destacam os tetos pintados e os silhares de azulejos, de composição figurativa, em várias salas do andar nobre.
Destas salas, merecem destaque: a Sala do Conselho Supremo (ou Sala de Diana) que homenageia José António Marques, o Fundador da Cruz Vermelha Portuguesa, e todos os Presidentes desta Sociedade; A Sala das Parábolas, com painéis azulejares alusivos; A Sala de D. João de Castro, também denominada Sala das Tapeçarias; A Sala da Mitologia; a Sala das Grinaldas e a Sala de Jantar, com quatro pinturas que representam o Palácio em várias épocas, evidenciando a sua evolução arquitetónica.
De todo o conjunto, distingue-se a Biblioteca, reconstruída em 1935 tendo como modelo a Biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa, com dois pisos de estantes em talha dourada, varandim sustentado por consolas e teto pintado, representando cenas referentes às artes liberais. Merece ainda referência um majestoso lustre de cristal oferecido pela Fábrica da Marinha Grande.
Destaca-se também a encantadora Capela, reconstruída em 1935 e dedicada a Nossa Sra. da Conceição, com várias inscrições alusivas à sua construção, ao seu orago e à Cruz Vermelha, possuindo tetos pintados e paredes revestidas com azulejos do século XVII.
Pelo seu valor histórico e patrimonial, este Palácio está classificado, desde 1993, como IIP (Imóvel de Interesse Público) e justifica, sem dúvida, uma visita.
Atualmente, só abre ao público mediante a marcação prévia de visitas de grupo, pelo que aconselhamos que aproveite a edição de fevereiro do “À Descoberta da Estrela”.