A primeira vez que se ouviu falar em COVID-19 ninguém previa
o que estava para acontecer, só se sabia que na China era algo grave. Após os
primeiros casos em Portugal, o Gabinete de Desenvolvimento Social começou a
planear uma resposta caso viesse a ser necessário.
A confirmação chegou uma semana depois, com a implementação
do Estado de Emergência no País. A Junta de Freguesia de Estrela esteve, desde
o primeiro dia, na linha da frente no apoio social. Ana Martins e Ana Roberto
foram duas psicólogas que, a par com uma equipa extremamente profissional,
acompanharam esta pandemia de perto.
Ana Martins foi uma das vozes por trás do SOS Estrela, um
serviço de apoio telefónico que permitiu à JFE acompanhar e dar o apoio
necessário à Comunidade. As chamadas telefónicas estavam disponíveis
diariamente entre as 9h e as 20h, a JFE disponibilizou o apoio de uma equipa
multidisciplinar na área da Psicologia e Serviço Social que acompanhou e deu
resposta a todos os casos que surgiam.
Por sua vez, Ana Roberto materializou todos os pedidos que
se ouviam por telemóvel. As compras da mercearia, os medicamentos que estavam a
acabar e a garantia de que a Junta estaria sempre presente.
“As pessoas tinham muita falta de informação, estavam com
medo que tudo fechasse e que as entidades e serviços os abandonassem.” Ana
Roberto explica como o medo era transversal a todas as famílias. “No início
eram mais as preocupações do que as necessidades reais”, as listas de compras
eram extensas e as pessoas tinham muito receio do que iria acontecer. Com o
acompanhamento semanal prestado pela JFE, as pessoas voltaram a sentir-se
seguras e confiantes no serviço prestado.
“Aponte aí o número do meu vizinho!”
Uma das preocupação foi chegar ao maior número de seniores e
agregados familiares, para dar o acompanhamento necessário. Ana Martins, uma
das psicólogas responsáveis pelo acompanhamento telefónico, explica que surgiu
uma Rede Informal de Vizinhança que começou a partilhar entre a Comunidade os
contactos do SOS Estrela. “Uma senhora colocou os números do SOS Estrela no
prédio porque as vizinhas também precisavam de apoio”, relembra um dos casos
práticos da Rede Informal de Vizinhança.
A preocupação entre a Comunidade era notória, tal como o
cuidado que existia para com o outro. A equipa do SOS Estrela fez, desde o
início, um acompanhamento personalizado a cada freguês e isso permitiu estar
mais próximo das necessidades reais de cada agregado familiar. Ana Martins
confessa que a partir de determinado momento já eram os próprios fregueses a
preocuparem-se com a equipa SOS Estrela. “Se não atendíamos à hora habitual,
recebíamos telefonemas a perguntar se estava
tudo bem ou se precisávamos de algo”, comenta.
Em campo também se sentia esta preocupação mútua.
“Felizmente foram poucas as vezes que falhámos a nível de horários, mas quando não
chegávamos a horas as pessoas deixavam de estar preocupadas com as refeições.
Ligavam-nos a perguntar se estava tudo bem connosco. As pessoas estavam mais
preocupadas connosco do que com as refeições deles.”
Juntos vamos ficar bem
Para que o SOS Estrela fosse um sucesso, estiveram
envolvidos cerca de 9 profissionais da JFE e foram feitas várias parcerias. O
Centro de Saúde da Lapa, em contacto direto com a JFE, continuou a acompanhar
os seniores que assim necessitavam, foram vários os estabelecimentos da
freguesia que desde o início da pandemia doaram refeições para a população mais
carenciada, e com os voluntários da Up To You tornou-se mais fácil conciliar as
distribuições alimentares.
O medo, presente em vários momentos, foi começando a
diminuir quando a população “encontrou na Junta uma fonte de apoio sólido”, constata
Ana Roberto. As infindáveis listas das primeiras semanas começaram a reduzir e
nos telefonemas já se ouvia “peço para a semana, pode ser?”.
Passados quatro meses desde o início da pandemia, a JFE
continua a distribuir refeições e a acompanhar os fregueses. A relação de
proximidade entre as equipas e a Comunidade cresceu. Ana Roberto recorda um
momento vivido com uma freguesa no dia 13 de maio, após a entrega de compras. A
senhora pediu a Ana para rezarem uma Avé Maria, “foram três minutos em que
fiquei com a senhora a rezar e lembro-me de pensar “Ok, isto até pode correr
bem. Vai ficar tudo bem!”, conta Ana.