O processo de envelhecimento é acompanhado das mais variadas mudanças, físicas, psicológicas e sociais, e a ação terapêutica pela arte “mostra-se inovadora e com um impacto positivo na melhoria da qualidade de vida dos idosos durante o processo de Envelhe(Ser)”, como explica a terapeuta Teresa Vaz.
É nas instalações do Centro Comunitário da Madragoa que, uma vez por semana, têm lugar as sessões. Entre terapeuta e utentes há partilha e cumplicidade e deixam-se para trás, com o evoluir das sessões, os medos, a vergonha, a solidão, a desmotivação e as tristezas.
Maria é uma das senhoras que semanalmente não falha aos encontros, que define como momentos privilegiados para “ouvir, saber ouvir e conversar”. Já Linda, que integrou o grupo “numa altura em que andava completamente desnorteada” devido à perda de um ente querido, passou do “eu não sei fazer” para “eu já fiz mais coisas aqui do que alguma vez imaginei”. Aliás a ideia de tudo ser possível é bastante trabalhada, sendo a arte-terapia precisamente o ato de fazer espontâneo e sem pretensões a obras de arte. A Arte-Terapia é, como esclarece a terapeuta, “um método de desenvolvimento pessoal que integra a expressão criativa na relação terapêutica”.
Teresa Vaz, elemento facilitador do processo, explica que cada sessão é “composta pelo momento de chegada e de partilha da semana, depois formulo uma proposta criativa ao grupo. O momento de criação é, como costumo dizer, um momento para não falar”.
Atualmente são sete as utentes, com idades superiores a 60 anos, que semanalmente fazem arte com os mais variados materiais, desde barro, a massa de rissóis e bolachinhas, passando pela música que as próprias compõem e que serve depois de base para criarem sobre a desafiante folha branca, como partilha a Senhora B, “Aí, agora esta folha em branco”. A imensa riqueza que uma folha em branco expressa depois do medo inicial.
Quando se fala em medo e desafio, o grupo agita-se de forma assertiva “estar em grupo é mesmo importante, sentimo-nos integradas. Eu sinto-me muito bem aqui” desabafa a Senhora O, “é o nosso espaço, aqui não se passam receitas médicas, as receitas são outras” reforça a Senhora A.
Com diferentes realidades, mas muitos pontos que se cruzam, o trabalho desenvolvido nas sessões transportam as utentes para um universo que muitas vezes não tiveram oportunidade de viver, como o de ser criança. Brincar com uma boneca. Maria dispara prontamente “não tive bonecas, não brinquei”, assim como Linda que recorda a única boneca que teve “mas com a qual só brinquei com ela do sítio onde ma compraram até ao sítio onde cheguei, porque meti-a debaixo do chafariz e fiquei sem boneca. Ela era de papelão, mas eu achava que a boneca precisava de tomar banho” finaliza divertida com a situação.
A partilha é o vetor transversal do início ao fim das sessões, que terminam com um abraço, um ritual que “representa a amizade”, finaliza Teresa Vaz, Licenciada em Sociologia e formada em Arte-Terapia e Psicoterapia pela Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia.
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