Joana Mourão vive na Rua de São Félix há mais de dez anos. Arquiteta de formação e apaixonada pelas memórias do Património Urbanístico, encontrou na Junta de Freguesia da Estrela o eco que precisava para uma iniciativa aberta à Comunidade que devolvesse ao Bairro das Trinas a atenção perdida com o tempo.
O encontro deu-se na altura certa, com Luís Newton “a preparar um projeto agregador, que pudesse recuperar as memórias dos diversos Bairros da Freguesia, porque é nas diferenças que está não só a sua riqueza patrimonial e histórica, mas também o sentido de identidade comunitário que jugo importante que possamos preservar e que possamos incutir aos que agora habitam esses lugares, muitas vezes desconhecedores dessas realidades”
E de facto, para muitos moradores não existe atualmente a ideia da existência de um Bairro das Trinas e para outros há muito que não ouviam a denominação.
Assim, “Reabilitação Urbana no Bairro das Trinas” foi o mote para uma manhã de experts e de fregueses, da história e de estórias, de um passeio pelas Trinas e sobretudo de reforçar a identidade de uma zona emblemática da Estrela.
Percorrendo os mapas, as palavras dos oradores e sobretudo as Ruas acompanhámos a formação do Bairro das Trinas, os seus marcos históricos e as suas marcas físicas nas fachadas dos edifícios.
O tempo dilui muitas vezes a singularidade cultural dos espaços e enfraquece o sentido de pertença das pessoas, mas na verdade esse não é o caminho obrigatório. Não para o Presidente da Junta de Freguesia da Estrela que tem tido como preocupação compreender e fomentar a essência de cada Bairro, “integrar a memória histórica e lutar para impedir, não só o apagar dessa memória colectiva, mas simultaneamente o apagar da memória urbana.” As Juntas têm, na visão de Luís Newton, que “ser os guardiões do legado daquilo que é a identidade cultural dos vários tecidos urbanos que constituem o seu território Administrativo, não deixando que se descaracterizem.”
Fizeram parte da reflexão com a Comunidade os Arquitetos Walter Rossa, José Aguiar, Vítor Campos e Joana Mourão, assim como o Historiador José Sarmento Matos e o Jurista Cláudio Monteiro.
Formação do Bairro das Trinas
Da tempestade vem a bonança e o Bairro surge na sequência do terremoto de 1755 e da demora na reconstrução pombalina da Baixa. O impasse estimulou a rápida urbanização nas zonas periféricas, tais como a encosta da Estrela, através de uma reconstrução espontânea pelo aforamento dos terrenos adjacentes ao Convento das Trinas do Mocambo, atual sede do Instituto Hidrográfico da Marinha.
Ver Fotos