Para a história de Lisboa e dos bairros mais personalizados que a caracterizam torna-se importante o conhecimento dos seus espaços coletivos de convívio, sejam eles agremiações recreativas, culturais ou outros.
Pelas suas funções específicas, as salas de espetáculo e a sua programação (particularmente as mais polivalentes) espelham bem a vida que à sua volta era criada. Por este motivo importa relembrar a história e a vida cultural e recreativa gerada na Madragoa por duas salas há muito desaparecidas e algo desconhecidas do público em geral.
O Teatro das Trinas e o Cine-Esperança, embora sem terem tido uma vida particularmente longa e funcionando em períodos diferentes, tiveram uma considerável continuidade no tempo, com usos afins e igualmente diversificados.
Diversa foi também a sua persistência no tempo. Se, com os seus usos polivalentes, o espaço onde existiu o Teatro das Trinas terá perdurado um pouco menos que um século, já o do Cine Esperança, originário de meados do século XVII, vai a caminho dos 4 séculos de existência, prolongando-se atualmente através do Museu da Marioneta.
E foi precisamente no Museu da Marioneta, que na passada quarta-feira, dia 30 de novembro, a Junta de Freguesia da Estrela e a editora Caleidoscópio fizeram a apresentação pública do livro Do Teatro das Trinas ao Cine-Esperança, da autoria do arquiteto José Silva Carvalho, que recupera a memória destes dois espaços, polos de animação da vida coletiva do bairro da Madragoa e da cidade.
Como refere o Senhor Presidente da Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton, “complementando o teatro e o cinema, a sua atividade principal, [o teatro das Trinas e o Cine-Esperança] foram ainda palco de significativos acontecimentos ligados ao fado, contribuindo assim para o traçado da Rota do Fado na Madragoa, sítio relevante na génese desta forma de expressão artística.
A valorização do património material e imaterial é fundamental na reconstrução de uma memória coletiva, no reforço de sentimento de pertença de quem lá vive e no reposicionamento da Madragoa, enquanto bairro histórico da cidade.
Do Teatro das Trinas ao Cine-Esperança leva-nos a recuar no tempo e recuperar memória do legado que recebemos e que queremos perpetuar”.
Numa sessão que se iniciou com um breve momento de fado, com temas de Hermínia Silva, foi ainda descerrada, no exterior do Museu da Marioneta, uma placa de homenagem a esta imortal fadista. Um momento simbólico, mas significativo, de uma grande artista que se estreou como profissional em 1926, precisamente, no antigo Cine-Esperança e no qual esteve presente a sua neta, Ana Paula Ribeiro.
Para além das intervenções de Luís Newton e de José Silva Carvalho, intervieram ainda a Dr.ª Maria José, diretora do Museu da Marioneta e o Dr. Jorge Ferreira, da Editora Caleidoscópio que fez a apresentação do livro.
Ver Fotos