O fado da tradição ecoa pelos corredores da Sociedade Musical Ordem e Progresso. Este é um fado diferente: os sons resultantes do convívio entre os mais diversos elementos da comunidade, que se articula com o ambiente gerado por esta reunião entre amigos e vizinhos, que se juntaram num Sábado à noite para jantar, conversar e, acima de tudo, para assistir à Revista.
Este não é o único fado que nos rodeia: outro fado ecoa no palco da Sociedade Musical Ordem e Progresso – esse, sim, das melodias de Portugal. A música suave acompanha a entrada do público, que recebe este convite musical para se preparar para o início do espetáculo. As pessoas cumprimentam-se e também cumprimentam o encenador Carlos Jorge Español, que os recebe de forma calorosa e familiar. Desde a entrada no edifício até à cadeira da plateia é necessário subir um andar. Neste percurso que o público realiza, temos a oportunidade de vislumbrar um pouco daquilo que é ser lisboeta, daquilo que é ser português.
“E Agora? Quem é que Manda?” é um espetáculo feito pela comunidade para a comunidade que conta com o apoio da Junta de Freguesia da Estrela. Crianças, jovens, adultos, séniores: todos se reúnem na noite de Sábado à noite para assistir a esta Revista à Portuguesa encenada e dirigida por Carlos Jorge Español.
A Revista à Portuguesa – “A Mais Luxuosa Revista em Cena”, a “Extraordinária Revista à Portuguesa” – “E agora? Quem é que Manda?” faz jus ao nome. Elevando as características essenciais de caracterização deste género de teatro, com a apresentação de números musicais extremamente bem executados e orquestrados, com figurinos exuberantes mas também contemporâneos, esta Revista é marcada pelo teor político e social das cenas de comédia, que retratam de uma forma coerente e exata a situação política e social atual do país, e a situação atual da cidade de Lisboa.
Desde uma ode à Ponte 25 de Abril ao Cristiano Ronaldo, desde o Pokémon Go ao fado, desde uma cena de amantes a um consultório médico: todos estas cenas se articulam majestosamente em torno daquilo que poderá ser um dos momentos de comédia – e musicais – mais marcantes deste ano. A apresentação de dia 7 de janeiro contou com a participação da cantora espanhola Ariane Libertad – a Atração Convidada Internacional da Revista à Portuguesa deste dia -, que nos demonstrou o poder que a voz tem sobre o público. Mas não foi a única: as vozes de Beatriz Cassona e João Roque foram dois dos inúmeros exemplos neste elenco marcado pelo talento, pela versatilidade e pela musicalidade – tal como uma dose de boa disposição e jeito para a comédia -, do talento musical – infindável – que existe em Portugal.
O retrato crítico da sociedade e da política portuguesa afunilam-se numa crítica à situação da cidade de Lisboa. “A nossa cidade é das mais belas do mundo”, mas nem todos se preocupam com ela. Luís Newton, Presidente da Junta de Freguesia da Estrela, é, no entanto, destacado enquanto uma das pessoas que “ainda se preocupa com o bem-estar das pessoas que aqui vivem.” Tanto que, numa cena com um cenário de Grande Arraial da Sociedade Musical Ordem e Progresso – onde está a banca de Cachorro da Iara, a banca das Bejecas da Tânia e a banca dos Manjericos da XX –, com a visita de senhoras que procuram passar umas boas férias à portuguesa, se realça que “o Algarve já não é Portugal. Ouve-se tudo menos português. Férias na Estrela é o que está a dar!”. A Freguesia da Estrela é, como tal, não só o melhor sítio para passar as férias, como para apreciar a vida de Lisboa.
Lisboa e Portugal não poderiam ter uma maior dedicatória de amor do que “E Agora? Quem é que Manda?”. Um amor crítico de quem cá vive, de quem sabe olhar para o seu mundo, e de quem sabe despertar as mentes de todos os outros através de uma breve canção ou de uma breve cena, através do despoletar de inúmeras gargalhadas e palmas. Uma gargalhada que desperta a mente, que rejubila o ser: que este amor pela Freguesia da Estrela, por Lisboa e pela boa Revista nunca acabe!
FICHA TÉCNICA
“E agora? Quem é que Manda?”
Sociedade Musical Ordem e Progresso apresenta Extraordinária Revista à Portuguesa
Textos: Carlos Jorge Español / Tito Lívio
Encenação: Carlos Jorge Español
Assistente e Encenação / Adereços e chapéus: Ricardo Magalhães
Músicas: Eugénio Pepe / Nuno Romero
Orquestrações: Nuno Romero
Direção Vocal: Maestro Ribeiro da Silva
Coreógrafo: José Nunes
Cenografia: Américo Grova / João Praia
Figurinos / Design Gráfico: João Praia
Confeção de Figurinos: Mestra Rosário Balbi
Elenco: Vítor Nascimento, Felipa Banazol, João Roque, Beatriz Cassona, Nuno Alho, Melissa Alves, Joel Carvalho, Iara Alves, João Paulo, Leny Dias, Tânia Passos, Sónia Carvalho, Sandra Abrantes e Ana Silva
Horário: Sábados (de 7 de janeiro a 27 de maio), às 21:30, na Sociedade Musical Ordem e Progresso (Rua do Conde, nº77 – 1º Andar, Lisboa)
Reservas: 962 776 409; cajoespanol@hotmail.com
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